Acabei
de ler dois livros muito interessantes, que apesar do carnaval, pode ser uma
boa dica para os que querem aproveitar a folga e não estão dispostos a cair na
folia.
Primeiro li “As Montanhas de Buda”
de Javier Moro. É o relato de duas monjas tibetanas que depois de serem
presas e torturadas pelo governo chinês, vão buscar asilo na Índia, mas
precisamente em Dharamsala, onde o Dalai Lama formou uma comunidade de refugiados tibetanos.
O livro narra a visão dessas monjas sobre a invasão chinesa ao Tibete. Marcante na
narrativa é o choque entre o posicionamente chinês da chamada revolução popular comunista
e a espiritualidade tibetana. A história é real e o autor, sem nenhuma
neutralidade, vai apresentando os fatos históricos paralelamente, posicionando
o leitor na narrativa que é bastante empolgante e comovente.
Deixo aqui registrado que é uma boa forma de se conhecer, um pouco mais, sobre a História política do Tibete e de sua isolada luta contra a dominação chinesa, principalmente, sobre a luta de um povo para conservar suas tradições, que basicamente são budista e espiritualista. Uma bela sociedade, que aos nossos olhos ocidentais e capitalista torna-se exótica, mas que no fundo nada mais é que uma sociedade baseada nos ensinamnetos da paz e do budismo.
O segundo
livro, “Enterro Celestial” da autora chinesa Xinran, veio completar o meu
fascínio pelo povo tibetano. Nesta narrativa, que segundo a autora é uma
história real, de uma mulher que conheceu quando ainda trabalhava como
radialista em Nanquin, na China.
A
protagonista da história é a chinesa Shu Wen, uma médica que decide ir ao
Tibete, no auge do conflito com os chineses, em busca de seu marido
desaparecido ou morto em combate. Por lá permaneceu por três décadas, sem,
contudo, deixar sua busca de lado. Nessa épica trajetória, acaba se juntando a uma
família de nômades tibetana, aprendendo a cultura e incorporando a espiritualidade
budista, ao ponto de quase se tornar uma típica nômade.
Nesse
livro o olhar de uma jovem chinesa, que desde a adolescência, conviveu com os
ideais da revolução chinesa, vai se modificando com o contato com a grande
espiritualidade tibetana. O livro é uma bela narrativa sobre uma saga de amor, em
que a cultura tibetana é apresentada de maneira respeitosa. Durante a leitura
vai se tornando clara a transformação espiritual de Shu Wen. Ao final, muitas
perguntas ficam sem respostas, na verdade, isso pouco importa, o testemunho
histórico do livro, a discrição sobre a religiosidade do povo tibetano e a transformação
de uma jovem comunista, em uma mulher, sábia e espiritualizada é que
torna o livro excelente.
Deixo ao final uma bela imagem, marcante no livro "Enterro Celestial".
Anyemaqem - uma das Treze Montanhas Sagradas do Rio Amarelo - Tibete